A nova geração.

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motociclismo dos anos 90. O texto é da responsabilidade de Carlos Almeida e as fotos de A. Martinho.

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Após longos anos de espera temos assistido a algumas melhorias na indústria nacional através da apresentação de modelos de uma nova geração, e que pouco têm a ver com as "velharias" produzidas ainda há bem pouco tempo atrás.

É o caso da Olimpic ou da Faxion, ambas da Famel, com que tomámos contacto recentemente.

 

Não podem ser consideradas verdadeiras novidades, pois o seu aparecimento em salões, ainda em fase de protótipo, tornou-as conhecidas. Aliás parece ser essa a politica da Famel: apresentar vários protótipos sem lançar nada de novo durante muito tempo. Contudo, só recentemente entraram em produção pelo que se podem considerar apostas verdadeiramente novas num mercado onde a concorrência é extraordinariamente forte, tanto a nível nacional como internacional.

A Faxion foi a primeira a ser lançada e cabe-lhe o mérito de ser a segunda "Scooter" fabricada no nosso país ( a primeira foi a Carina, da Casal), e ainda a primeira a utilizar uma transmissão por variador contínuo.

A Olimpic é um modelo mais recente, utiliza a base da Yuppy e estreia o primeiro motor de fase inteiramente construido em Portugal ( com excepção do carburador, bomba de oleo, pistão e componentes eléctricos), motor que se espera ver, em breve, na Faxion.

 

A Faxion é a segunda Scooter a ser fabricada em Portugal, a primeira com transmissão por variador contínuo, estando ao nível de muitas das suas concorrentes estrangeiras.

 

Estética

Começando pela estética - um capítulo sempre muito subjectivo - o desenho de ambos os modelos é francamente atraente, principalmente no caso da Olimpic com linha mais leve e decoração jovem e alegre. Em termos de conforto a vantagem vai para a faxion devido à posição de condução mais baixa e natural, embora no caso dos condutores de estatura mais elevada os joelhos possam ter um certo "desentendimento" com o avental e mesmo o guiador. Mas, com a ajuda do banco bastante espaçoso e francamente confortável e de um pouco de boa vontade facilmente se ultrapassa este inconveniente. Isto já é um pouco mais dificil de conseguir na Olimpic, pois a boa vontade e o banco espaçoso e confortável não conseguem compensar a excessiva altura do posto de condução - condicionada pela utilização de uma base longe do ideal ( Yuppie) e pelo espaço necessário para guardar o capacete- o que agravado pela também excessiva largura dos poisa-pés impede um posicionamento confortável.

Contudo, e passado o período de adaptação pode conduzir-se este modelo sem problemas de maior graças ao pouco peso do conjunto e à correcta colocação, em largura e altura, do guiador. As manetes e punhos revelam um tacto bastante agradável e os comandos estão muito bem posicionados à excepção do botão de arranque electrico que está numa posição demasiado vertical e de acesso algo complicado. Também a chave de ignição está mal posicionada no caso da Olimpic, sendo de criticar em ambos os casos a utilização de chaves diferentes para a ignição e abertura do banco o qual permite o acesso aos depósitos de gasolina e óleo.

A utilização de uma bateria, indispensável para o accionamento do arranque electrico, melhorou substancialmente a intensidade da luz destes modelos e não tendo propriamente verdadeiras centrais electricas ambas dão boa conta do recado. Os farois estão bem integrados no desenho dos modelos em causa, mas também aqui a  nota máxima vai para a Faxion, principalmente atrás, onde o conjunto das diversas luzes está bastante feliz.

Em termos de ciclistica a receita é basicamente a mesma, utilizando um quadro tubular em aço com as carenagens construidas em ABS ( e não em fibra de vidro como dizem as más línguas). Em qualquer caso, o quadro é suficientemente rigido para as performances do conjunto e os acabamentos estão acima daquilo a que fomos habituados pela indústria nacional mas infelizmente ainda um degrau abaixo do que de melhor se faz no Japão, Itália e França ( já os "nuestros hermanos" não estão muito melhores do que nós nesta àrea).

 

Ficha Técnica
Famel Faxion
Motor
tipo - Monocilindrico a 2 tempos refrigerado a ar forçado.
Admissão - Por lamelas directamente ao carter.
Cilindrada - 49,9cc 
Diametro X Curso - 40 X 39,2
Taxa de compressão - 7,6:1
Lubrificação - Separada com bomba Mikuni
Embraiagem - Automática centrifuga
Caixa - Automática por variador de fase
Ignição - Electrónica CDI
Arranque - Electrico
Dimensões e capacidades
Capacidade/ oleo - 1lt
Capacidade/ gasolina - 5.2 lt
Comprimento: 1650mm
Largura: 640mm
Entre eixos: 1135mm
Distância ao solo: 100mm
Rodas: 3.00 X 10

 

Suspensões

Em termos de suspensões as diferenças entre os dois modelos são forçosas devido à diferença de filosofia entre estes dois projectos. À frente a Olimpic recorre a uma forquilha telescópica tradicional reforçada à altura do guarda-lamas, mas como tem sido hábito nas produções da Famel os hidráulicos continuam a não existir embora neste caso, e graças ao peso e performances do veículo, seja mais prejudicial para o conforto do que para a estabilidade. Já a Faxion, tal como a maioria das suas concorrentes, utiliza um sistema de paralelogramas deformáveis e faz uso de um amortecedor hidráulico bastante bom, garante de conforto e estabilidade, principalmente porque não afunda excessivamente em travagem, evitando o facil bloqueio da roda dianteira como sucede nalgumas "scooters".

Atrás, as soluções aproximam-se devido à utilização de um motor oscilante que serve também de escora ( monobraço). Também aqui a vantagem vai para a Faxion devido ao melhor posicionamento do amortecedor, visto na Olimpic este encontra-se demasiado vertical tornando-se duro e pouco progressivo. Também o funcionamento do hidráulico da suspensão traseira é melhor na Faxion, embora isso possa ser significativo de uma unidade deteriorada usada na Olimpic de testes, uma vez que custa  acreditar que a Famel compre amortecedores diferentes para um e outro modelo. Uma ultima palavra para os travões de tambor em ambos os casos, que não são particularmente potentes mas muito progressivos.

 

 

Motor:

Ao nível dos motores estes dois modelos apostam na mesma filosofia, cabendo à Olimpic a estreia do primeiro motor oscilante com variador de fase inteiramente construido no nosso país, enquanto que a Faxion testada utilizava um motor " made in Taiwan" claramente inspirado no da Yamaha ( tão inspirado que todas as peças Yamaha encaixavam lá).

As soluções são em tudo idênticas, como a refrigeração por ar, lubrificação separada com bomba Mikuni, o carburador da mesma marca, admissão directa ao carter por lamelas, o variador contínuo e a embraiagem centrifuga. Contudo, ao nível do comportamento, suavidade e rendimento a diferença de filosofia entre os dois projectos reflecte-se tornando os dois motores bastante diferentes em termos de comportamento. Quanto a performances, a vantagem não podia deixar de ir para o motor Famel, com os seus anunciados 6.8cv de potência à roda, valor que nos parece demasiado optimista.

De qualquer forma, o motor Famel denotava uma maior vivacidade nas subidas de rotação e no funcionamento nas rotações mais elevadas, enquanto que o motor da Faxion trabalhava melhor nas baixas e médias rotações, compensando o menor rendimento a alta rotação com uma destribuição de potência agradável. Para esta sensação de suavidade contribui também em larga escala a embraiagem centrifuga do motor da Faxion, senhora de grande suavidade, enquanto que no motor da Olimpic o reforço da embraiagem- necessário para suportar o acréscimo de potência- se reflectiu num saltitar incómodo que torna os arranques muito menos agradáveis. Passado o momento do arranque, qualquer um dos modelos apresentava relações muito bem estudadas com o variador de fase a deixar claras as suas vantagens em termos de aceleração e suavidade.

Poderemos dizer que estes dois modelos foram simplesmente o melhor que alguma vez a Famel produziu, principalmente no que se refere à Faxion que, fruto de um projecto mais bem nascido, conseguiu ser particularmente feliz, podendo mesmo ombrear sem grandes complexos com as suas rivais estrangeiras. A Olimpic é um pouco menos feliz, fruto de um esforço claro na redução de custos, já que houve uma excessiva preocupação no sentido de se obter um produto de custo muito baixo mas no qual não faltasse nada e ... meteu-se o " Rossio na rua da Betesga"!

O aproveitamento do quadro da Yuppie não é o ideal, a colocação do capacete elevou demasiado a posição de condução e obrigou à colocação do amortecedor de uma forma menos acertada.

Enfim, o argumento de um modelo de baixo preço que já possui capacete próprio e com espaço para o guardar acabou por provocar diversos inconvenientes que lhe tiraram parte significativa da sua competitividade. Talvez a evolução deste modelo adaptada para um capacete tipo "jet" não fosse mal pensada.

Apesar de tudo estes modelos assinalam uma evolução em relação ao que a Famel nos tem habituado e bastará um pouco mais de cuidado nos pormenores para poder ir mais longe.

 

Fruto de um  esforço na redução de custos, a Olimpic é um pouco menos feliz mas facilmente se chegará a uma versão mais aperfeiçoada.

 

Ficha Técnica
Famel Olimpic
Motor
tipo - Monocilindrico a 2 tempos refrigerado a ar.
Admissão - Por lamelas directa ao carter.
Cilindrada - 49,9cc 
Diametro X Curso - 39 X 41,3
Taxa de compressão - 9,0:1
Lubrificação - Separada com bomba Mikuni
Embraiagem - Automática centrifuga
Caixa - Automática por variador de fase
Ignição - Electrónica CDI
Arranque - Electrico e pedal
Dimensões e capacidades
Capacidade/ oleo - 1lt
Capacidade/ gasolina - 5.0 lt
Comprimento: 1700mm
Largura: 330mm
Entre eixos: 1046mm
Distância ao solo: 220mm
Rodas: 2,75 X 14
Peso a seco: 56 KG